Texto escrito em homenagem a uma professora de filosofia que me falou que a ética é um conjunto de valores “universais” que devem ser adotados como ideais supremos de uma sociedade. Ao invés de bater boca com a criatura, tive a idéia de fazer uma brincadeira com a idéia…
Vícios são coisas conhecidas por todos, tem uma conotação pejorativa e muitas vezes são misturadas com outros adjetivos para abrandar seu significado. Diz-se “sou aficcionado por”, “sou entusiasta de”, “sou doido por” ou mesmo “sou tarado por” ao invés de simplesmente dizer “sou sou viciado”. Ninguém nasce viciado, no pior dos casos nasce com dependência química ou predisposição a algum vício. O vício em geral é uma opção consciente.
Os viciados dificilmente reconhecem o próprio vício, e quando reconhecem, em geral, se entregam a ele. O vício é visto como algo destruidor que devora o ser humano por dentro e contamina as pessoas em torno do viciado. Geralmente o vício é associado ao consumo de alguma substância tóxica como o álcool, THC, nicotina, cocaína, etc. Eu gosto de ver o vício como um hábito, um ritual com o qual as pessoas se identificam. Ascender um cigarro, pedir uma cerveja num bar, abrir uma garrafa de vinho, enrolar um baseado, existe toda uma cultura que envolve o viciado. O fator ativo que pode causar dependência química pode ser apenas um ator coadjuvante na origem do vício. A socialização, o auto-conhecimento, a experimentação e o prazer são os reais motivadores para adentrar no mundo do vício.
Não vou negar que o vício pode ser muito nocivo. Após me livrar dos vícios costumeiros da adolescência, chegando até a parar de fumar, descobri o meu verdadeiro vício: a comida! Sim, não só sou viciado em açúcar como sou tarado por uma boa comida. E quem achar que isso um exagero meu, eu convido a assistir o vídeo chamado Super Size Me que conta uma experiência bizarra de um cara que passa um mês comendo apenas Junk Food. O acompanhamento médico mostra o estrago que isso pode fazer para a sua saúde.
Assim como fumar, injetar, cheirar, beber e, no meu caso, comer, existem muitos outros vícios perigosos como o vício pelo trabalho, por jogos de video-game, bate-papo na Internet, masturbação, sexo, café, exercício físico, adrenalina, rotina e por a vai. Conheci pessoas viciadas até mesmo em limpeza. sério! A pessoa quase baba quando entra no setor de produtos de limpeza do supermercado. Sua casa parece um centro cirúrgico!
Mas com o tempo eu conheci o pior de todos os vícios. Este, convive naturalmente e passa desapercebido por aqueles que não tiverem um olhar realmente aguçado. São milhões de viciados em todo o mundo, que negam piamente a existência do mesmo em suas vidas. A periculosidade deste vício se refere a sua morbidez que leva o viciado a perder e capacidade de raciocínio e o leva a indiferença e a solidão. Enfim, pode transformar as pessoas em verdadeiros autistas em poucas semanas. O curioso é que os meios de comunicação de massa injetam mensagens quase subliminares incentivando as pessoas publicamente a este vicio nefasto.
A pessoa se inicia no vício buscando a mais plena felicidade, numa atitude positiva, pacata e inocente. Como o vício é pouco divulgado, muitas vezes ela não se dá conta do risco. Acha que está fazendo algo de bom, que todos a sua volta vão aprovar a sua atitude. A sociedade a sua volta não percebe o vício e o viciado pode entrar num caminho sem volta. A dificuldade em se recuperar alguém com este vício é a convicção do viciado de estar fazendo algo bom.
Não conheço sequer uma expressão que descreva numa palavra este vício pavoroso. Eu chamo ele de “normalidade”. Machado de Assis já alertava para o seu risco há mais de um século ao escrever o conto “O Alienista”, mas de lá para cá, a coisa parece ter piorado. As pessoas hoje buscam a normalidade como um estilo de vida e abrem mão de sua auto-determinação, do seu senso crítico, da sua indignação e até mesmo de seus pensamentos próprios. Tudo passa a girar em torno de um senso comum, e valores socialmente aceitos. Ou seja, a pessoa é viciada em não ter vício, em aparentar ser uma pessoa comum, normal, apresentar um modelo de bom comportamento social. Hoje este vício possui toda uma sustentação dita filosófica que é difundida até mesmo nas escolas e universidades em nome da boa conduta social. O ápice do vício é quando a pessoa atingi um grau elevado de pseudo-consciência chamado de “ética”. A pessoa adota padrões morais que acredita serem superiores e universais. Passa a julgar e interpretar o mundo a sua volta conforme estas referências superiores e se convence de possuir um alto grau de criticidade. Assim, o viciado naturaliza uma opinião que não é natural, que não nasce na natureza e sim a partir de algumas cabeças pensantes com grande poder de influência na cultura dominante.
No entanto, ao se observar a interação dos viciados com as pessoas a sua volta é que se percebe o real estrago do vício: a indiferença social. A pessoa deixa de reagir às catástrofes sociais como se fosse um apresentador do “Jornal Nacional” e adota apenas críticas pré-formuladas do referido jornal ou de qualquer outra fonte por onde jorra o censo comum. Passa a repudiar qualquer forma de atitude que vá além dos bons modos e a considera-las (assim como a própria catástrofe) algo de mal gosto. Por fim, os viciados em normalidade, são potenciais delatores de qualquer suspeita de anormalidade. São predadores natos de revoluções, revoltas e manifestações populares em geral. O viciado em normalidade repudia todos os que possuam vícios que não sejam o seu, pois na verdade eles são contra os vícios e tomam como grande ofensa pessoal quando são chamados de viciados, o que torna tão difícil o seu tratamento.
Creio que os vícios, quando controlados são formas de tornar a vida mais suportável, mais interessante. Não estou aqui incentivando que cada um deva cultivar o seu. Só acho que não se trata de algo do outro mundo. Sob controle o vício se parece com um passa-tempo que se adere a personalidade da pessoa. Contudo a normalidade, a ausência de personalidade própria é uma atitude perigosa que nos conduz silenciosamente ao Admirável Mundo Novo, que apesar de ser um chavão, é cada dia mais real.
Cuidado: a normalidade esté entre nós!
eu ñ sei de nada só sei q bebo muitooooooooo e ai?q faço pra para???????????
Pare de beber!
Muito o bom o texto. Bastante eloquente, por sinal.
Quando vc diz: O vício em geral é uma opção consciente. a adesão do vicio normalidade é realmente consciente?
e falando sobre ética, tenho ela como um estudo, posso até dizer, um questionamento, da moral, dos valores determinados, então,olhando por esse ângulo acho que eu mudaria essa frase:
O ápice do vício é quando a pessoa atingi um grau elevado de pseudo-consciência chamado de “ética”.
talvez isso expli a aspas em “etica” neh? e ainda a ironização: homenagem?
Curioso como um texto escrito há mais de 3 anos se torna popular de repente. Vários acentos que sumiram durante a migração do blog foram corrigidos. Incrível como ninguém xingou a ortografia deplorável que se manifestava por aqui. Enfim… eu gostei muito de escrever isso aqui, mas na época ninguém deu muita bola. Com o tempo ele foi crescendo com a ajuda do Google e se tornou popular por aqui. Teve até quem indicasse o texto em faculdade. Incrível não? Era só uma brincadeira…
😀
legall super legall
BEM VC IDENTIFICOU UM NOVO VICIO,SIM QUE BOM ,PARABÉNS!ALGUÉM JÁ O TINHO NOTADO É CLARO,VC DESENVOLVEU BEM SUA TESE.PORÉM PECOU NO FINAL DO TEXTO QUANDO DISSE:”Creio que os vícios, quando controlados são formas de tornar a vida mais suportável, mais interessante. Não estou aqui incentivando que cada um deva cultivar o seu. Só acho que não se trata de algo do outro mundo. Sob controle o vício se parece com um passa-tempo que se adere a personalidade da pessoa.”….CARA ISSO É MUITO GRAVE DE SE FALAR,NÃO SEI COMO PODERIA SE FUNDIR A VIDA DE UM DROGADO : A SUA DROGA…OU COMO SERIA UM PASSA TEMPO NORMAL O ATO DE ROUBAR,DE SE MASTURBAR DE PEDOFILIA…ME ESPPLICA COMO A VIDE DE UM CARA QUE É VICIADO SE TORNARIA MAIS INTERESSANTE QUANDOP ELE ESTA SE PREJUDICANDO SE ESCRAVISANDO SE ATOLANDO NA SUA MERDA DE VICIO?SEI LÁ …VC NÃO SABE O REAL PESO DE UM VICIO NA VIDA DE UMA PESSOA.SE SOUBESSE NÃO ESCREVERIA ISSO.
Parabéns !!!! Exatamente!!! A vida com vício é o mesmo que estar jogando ela no lixo…
acho que o rapaz do comentario aí nao entendeu o texto inteiro…
Cada um tem seu proprio vicio.. pequeno ou grande (independente de ser dorgas, masturbacao ou diabo a quatro)
é logico
é logico que se o tal viciado ler o texto e quiser entender só o final, vai ter estrago na propria vida.
Mas acho que o que o autor
telles
quis fizer é que cada um administra o seu proprio vicio.e tem outra.. o texto diz sobre um
novo vicio
a da normalidade… nao é incentivo nenhum de deturpa a cabeca de ninguem que saiba ler um bom texto.. vai deturpar sim, aqueles viciados que nao sabem ler!O esforço exigido de si mesmo para a normalidade social, talvez seja a mesma proporção do esforço necessariamente empreendido para o controle de qualquer vicio, para não chegar ao abuso do mesmo. Pois os “normais” cobram a normalidade de todos.
Acho que o único que entendeu essa medíocre análise sobre vício foi realmente o Anderson.O autor desse lixo não deve entender nada sobre o assunto ou é um viciado incontrolado e quer obrigar as pessoas a verem isso como normalidade,se justificando de suas frustrações.APOLOGIA À VÍCIOS É ALGO REPULSIVO.VÁ SE TRATAR COMPANHEIRO!
Eu devia simplesmente apagar o comentário… mas deixa quieto. Não vamos alimentar os Trolls. Acho que ter um Troll no seu blog faz parte. Me lembro como sou feliz por viver no meio de pessoas mais ilustradas. Bom ratinho para você Rubã0.
tambem nao acho que ele teve intecao de amenizar as dificuldades com o vicio. cada um deve ter seu nivel de dificuldade. a normalidade é sim o grande vicio venenoso! a pessoas que nao se permitem admitir suas falhas e se julgam normal acabam querendo inventar um padrao irreal que a historia provou – pelo exemplo do nazismo, que nao é positiva. sao varias as formas de alienacao, maneiras de nos anestesiar para – como ele bem disse, nos tornarmos indiferentes da realidade, indiferentes com o outro e ainda nos julgarmos superior a alguem.
aqueles quem com ideias embasadas em opinioes alheias tentam moldar a sua etica nao sao eticos e sim gente se persolidade e vida propria . Conheco viciados em drogas q tem mais etica q mtos quando nao usam frente a seus filhos em fim o que digo e q etica e um conjunto d virtudes peculiar a cada ser e nao pode ser imitada.