Anos incríveis

– Me conte qual filme lhe causou mais impacto na vida

– Humm, deixa eu ver…. Eu gostava muito do “O Último Imperador”, do Bernardo Bertolucci, também amo “Dersu Uzala” do Akira Kurosawa

– Sei, sei…

– Olha… pra dizer a verdade, tem 2 filmes que eu gosto muito… você pode achar meio bobo, mas eu sou fã de “Quase Famosos” e “Verão de 42”. Os dois filmes são meio auto biográficos, os diretores contam duas próprias histórias nos filmes. Tem aquele outro… bem “Sessão da Tarde”, qual é mesmo? Sobre um grupo de adolescentes que partem numa viagem a pé por uma floresta para tentar encontrar o corpo de um menino assassinado.

– Sei… “Conta Comigo”, esse filme é lindo!

– Esse mesmo! Adoro esse filme.

E a conversa se alongou sobre como somos tocados por filmes que retratam pontos de virada da nossa adolescência, que nos marcaram. Como esses filmes, que podem não ter o impacto ou a grandiosidade de filmes como “O Último Imperador” ou “Dersu Uzala”, mas que dialogam muito intimamente com nossas histórias, com momentos que são muito caros para nós. E nessa conversa nos emocionamos lembrando de fatos marcantes das nossas vidas. Tantas histórias e uma torrente de emoções que nos fazem pensar em onde chegamos hoje.

Pela manhã não foi um filme que me puxou novamente para o passado, mas uma série. Uma série que eu acompanhava com os amigos e passava na TV Cultura. Não era muito conhecida, pois poucas pessoas assistiram esse canal, num tempo em que ainda não havia TV a Cabo e muito menos plataformas de Streaming…

A gente chegava no dia seguinte na escola cantarolando as músicas do episódio visto no dia anterior, e comentando sobre a história. “Anos Incríveis”, foi de longe a série que mais me marcou a vida. Longe de ser grandiosa como “Game of Thrones” ou densa como “Dark”, mas era a trilha sonora da minha vida. Era discutir a adolescência quando eu ainda estava vivendo ela. Era se transportar pelos apaixonantes anos 60, aliás, a série começa justamente em 1968 (o ano que não terminou, segundo Zuenir Ventura) em meio a rebeldia, a contracultura, mas do ponto de vista confuso e inconsequente (A Lara, do Irmão do Jorel, manda lembranças) de Kevin Arnold um garoto de 14 anos.

Eu amo ouvir e contar histórias. Admiro demais as pessoas que tem esse dom de contar histórias de forma tão cativante. Parece fácil… mas quando releio textos antigos meus (e novos também) e vejo narrativas de bons escritores, vejo o salto enorme de qualidade de um texto bem escrito. Como a escolha das palavras, dos fatos, as reflexões e a habilidade de fazer com que cada palavra lá no texto não esteja sobrando, nem faltando. E a gente nem percebe, como uma narrativa, que parece simples por ser leve, envolvente, vai marcar a sua vida para sempre, vai se colar na sua história, se misturando com as suas próprias aventuras pela vida. Anos Incríveis fez isso com maestria, se confundiu com a minha própria história. Foi a trilha sonora da minha adolescência.

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