Foi tudo muito rápido, da internação até o óbito foram 3 semanas. A doença progrediu rapidamente e após 7 dias de quimioterapia, o quadro piorou e em dois dias ele não resistiu. Ele pediu para que não comentassem com ninguém que ele estava internado. A mãe e o irmão se revesaram para ficar o maior tempo possível com ele durante esse tempo, mesmo quando ele estava na UTI nos últimos dias, conseguiram ficar ao seu lado.
No sábado de manhã veio a triste notícia. Ele não resistiu. No sábado a tarde, parentes, amigos e colegas, muitos que ficaram sabendo na última hora, se reuniram para se despedir do seu corpo. Amigos se prontificaram a passar a noite de sábado e domingo com a mãe e o irmão. Companhia importante nesse momento. Me afastei e deixei que parentes e amigos fizessem companhia. Domingo, mandei uma mensagem para o trabalho e pedi para tirar a segunda de folga. Imaginei que segunda seria um dia difícil, pois dificilmente alguém iria fazer uma visita nesse dia. E nesse dia fui lá visitar a família.
Estavam um tanto perdidos quando eu cheguei. Meu filho estava um pouco melhor que no dia anterior, passou o domingo mal, depois da maratona de horas a fio no hospital, se revesando com a mãe. Convidei ambos para sair para almoçar. Além da preocupação óbvia com meu filho, que acabara de perder o irmão, estava preocupado sobretudo com a mãe. Não há como descrever o que é perder um filho.
Assim que aceitaram sair para almoçar… fui um pouco mais ousado… que tal almoçar lá na praia? Em plena segunda-feira… por que não? Não havia compromissos na agenda de ninguém, o dia fazia um calor que tornava quase proibitivo recusar o convite. E sem regatear, toparam, fechamos a casa e fomos os três pegar a estrada. Quase nenhum trânsito na descida para o litoral, e quase nenhuma conversa. Cá e lá, os olhos do meu filho admiravam a paisagem em alguns pontos que sempre chamam a atenção. A represa, as montanhas, o mar se aproximando.
Chegamos na orla e avistamos um restaurante desses com o pé na areia e entramos no primeiro que vimos. E entre a brisa, camarões e um gole de cerveja, fomos conversando, lembrando de momentos engraçados dele, de quanto ele significou para nós em vida. Deixou boas lembranças, bons amigos, deixou histórias e saudades.
Quando terminamos, fomos lá ver o mar, molhar os pés um pouco. Ficamos um tempo, com a água até o joelho. Aquele mar imenso, que sempre emociona quem ainda tem um coração pulsando lá dentro. Já estávamos voltando quando a mãe dele sugeriu sentar numas cadeiras na areia e pedir uma saideira… E lá ficamos, por horas, conversando, vendo o mar, às vezes apenas em silêncio. As horas passaram, a conversa foi e voltou. A tarde já ia caindo quando resolvemos voltar. A mãe chegou a cantarolar algumas músicas no carro. Foi uma boa tarde afinal, apesar do momento triste.
Eu continuo triste com a perda. Sinto demais tudo isso. Não estava preparado para o que aconteceu. Estou realmente preocupado com o meu filho e com a mãe dele. Não sei dizer algo que conforte a mãe e o irmão, não sei como confortar meu próprio filho. Não posso tirar a dor, por mais que os abrace. Nem sei lidar direito com a minha própria dor. Não há uma fórmula mágica para tirar da cartola num momento desses. Mas eu atava lá. Ouvi, um bocado, conheci novas histórias, contei outras que lembrei. Foi uma bela tarde de sol. Quando foi que você parou tudo que estava fazendo e foi à praia numa segunda-feira pela última vez? Talvez isso não mude nada, não vai diminuir a dor e a saudade. Ainda assim, foi sem dúvida uma bela tarde de sol. Foi o melhor que pude fazer. Talvez não seja muito. Talvez. Quem sabe? Quem sabe, não seja justamente o que se podia fazer?
Agradeço demais meu filho e a sua mãe pelo privilégio de estar com eles nesse momento. De poder nos sentarmos à mesa, dividir a comida, as histórias e a cerveja. De mais uma vez podermos estar reunidos, fazendo viva a memória do nosso querido Augusto, num momento bonito, como uma tarde na praia.