Sprint criativo

Já era tarde quando acordaram. O corpo dava sinais claros de que a noite anterior havia sido um mais intensa do que o normal. Um café, um suco, uma ducha… e o grupo deixava de grunhir e passavam a revirar as anotações e pedaços das gravações feitas horas atrás. Não falaram muito entre si, mas uma hora um deles tomou a iniciativa. Deviam experimentar todos juntos para ver como ficaria.

Não havia mais ninguém além deles ali. A ideia de trocar o ócio criativo pelo sprint criativo foi do empresário. Depois de alguns anos na estrada, dois discos lançados e alguns hits que apareciam vez ou outra no rádio, estavam naquele momento crítico onde ou decolavam de vez, ou se tornariam coadjuvantes para sempre naquele universo. O empresário sabia bem disso. Por mais que o grupo se divertisse muito e tivesse realmente talento, precisavam de um grande hit para que o o dinheiro começasse a brotar para valer.

Depois de abrirem as janelas e lentamente tomarem seus lugares, tocaram uma, duas, três vezes e pararam. Sabiam que tinham algo importante ali. Funcionava bem. Era relativamente simples de executar. Começou como uma brincadeira entre eles, e o resultado os assustou. Se o empresário ouvisse aquilo… Era exatamente o que ele esperava há anos. Algo fácil de vender e grudar nas mentes de quem ouve. Seria um sucesso absoluto. Um deles propôs tocar mais uma vez mudando algo aqui ou acolá, colocando algum floreio no começo. Foi quando o mais novo fez a pergunta fatal: Estariam todos preparados para tocar essa música até o final das suas vidas? Em todos os shows? Ouvir tocar numa novela da globo, em comercial de creme dental, ou num programa de auditório com playback no fundo?

Todos queriam ser reconhecidos pelo seu trabalho. Todos almejam o sucesso. Mas não eram mais adolescentes. Sabiam que tinham competência para mais que aquilo. Aquela competência que é maior que os 15 minutos de fama da maioria dos artistas de sucesso de uma estação.

Fizeram uma pausa. Um cigarro, uma dose, um trago. Colocaram um disco antigo na vitrola que pertencera ao pai de um deles. Enquanto cantarolavam músicas antigas no vinil, foram cozinhar o almoço-quase-janta. E nunca mais tocaram aquela a música novamente.

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